A você que me lê

Versos editados
Em espaço enfeitado.
Expor minhas ideias
É um pouco arriscado.
Por isso, a você
Que me lê, um aviso:
CUIDADO!!!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O Lamento do Marujo

Se tu soubesses
O quanto foi ruim
Içar as velas,
Numa viagem sem fim,
Terias aparecido no cais.
Ó Deus, apiedai de mim!

Agora me atormenta
A última vez
Que vi seu rosto.
A tristeza de fez,
Quando não pude enfrentar
Tamanha palidez.

O temor de não voltar
É meu medo maior.
Pois o vento que aqui sopra,
Diz que a morte vai se impor.
E que desta grande nau
Não sobrará, nem lamento, nem amor.


domingo, 13 de janeiro de 2013

"A luz que ilumina, pode cegar"


"Quem é que sabe, é o que pensa ou o que arrisca?
 Quem é que sabe, saberia ou saberá?"   __Oswaldo Montenegro

É um tempo em que, provavelmente, nenhum de nós verá para contar história. Em uma fuga de uma batalha nuclear mundial, se esconderam juntos, no segundo dia de guerra, numa gruta, um homem, 40 anos, cientista que achava que toda essa confusão era culpa do muito conhecer dos homens. Pensava que "a sede insana da humanidade por respostas os levou a esse Apocalipse". Junto dele se escondia um jovem, 20 e poucos anos, artista em acensão, impetuoso e rebelde, digno da época que nasceu. Passaram tanto tempo, conversando de suas vidas, de como a guerra frustara seus planos, de seus alvos para o futuro, que se tornaram grandes amigos.

Trouxeram consigo mantimentos para passar o período da guerra e, se durassem até o fim dela, sairiam dali, sãos e salvos. Mas um dia seus mantimentos acabaram, e veio uma fome tremenda. Na gruta, os dias passavam sem que se tomasse conhecimento, tão escuro e sombrio o local. Tomando forças para conversar, o jovem disse ao seu amigo cientista:
"_Não podemos morrer de fome aqui. Me lembro de, ao descer pra cá, haver alguns arbustos na parte de cima da gruta. Talvez dê para comermos algo de lá." Seu amigo, porém, estava guardando forças, pois ficara fraco com a fome. Apenas sorriu e acenou, concordando.

O jovem subiu com dificuldade, mas chegou a um ponto alto da gruta, onde havia, sim! arbustos e restos de alimentos. "Provavelmente quem esteve aqui preferiu não descer muito," pensou.  Trouxe o despojo com ânimo renovado, e dividiram, felizes e recuperados. Mas não tardou a fome voltar; ao passar de alguns dias, o artista, com rebeldia restaurada, perguntou ao seu amigo cientista:
"_Vamos ficar aqui, parados, e morrer de fome? Talvez dê para subirmos à superfície. Não vê? Já passamos muito tempo aqui; nem sei em que ano estamos! Temos de voltar." O cientista logo se opôs:
"_Passamos muito tempo nessa gruta, e nos acostumamos à pouca luz. Poderíamos ficar cegos se nos expusermos repentinamente à superfície. Fora o risco de parada cardíaca, com o choque da cegueira repentina. Não compensa morrer dessa forma." O jovem não acreditava no que acabara de ouvir. Seu único amigo nesse tempo todo, com quem dividiu vida e pensamentos, preferia morrer, resignado, numa gruta pela fome! Era uma ideia que ele não aceitava.
_Então você prefere apodrecer aí, sem lutar pela única maneira sensata de viver?
_E qual seria?
_Lutar! É por isso que a humanidade escapou tantas vezes de ser dizimada por predadores, doenças, ditadores. Lutando que eu cheguei até aqui, e estou vivo ainda, de pé, conversando com você!
_Meu amigo, foi por lutar e querer sobreviver a qualquer motivo que nós tivemos que nos refugiar nessa gruta. Não compensa morrer assim.
"_Você é mesmo muito acomodado! Tolice, tudo o que disse! Tolice, eu ainda continuar a falar com você!" Seus olhos marejavam lágrimas, de ódio e tristeza, pois estava dividido entre morrer lutando e sozinho, ou morrer parado, acompanhado de seu único amigo. Decidiu que iria subir, sem olhar para trás.
"_Tem algo a me dizer, antes de nós nos separarmos?" Sua voz era agora doce e suave."Sim. Olhe a frase que você escreveu no primeiro dia que entramos aqui. O jovem olhou a parede que decorara com uma frase escrita com o sangue das suas mãos:
                                      "A luz que ilumina, pode cegar"
Ele olhou para seu amigo, agora magro, desgrenhado, de barba grande, e deu um abraço. Nunca, nesse tempo todo que estiveram juntos, havia dado um abraço no amigo mais velho. Talvez tivesse perdido a sensibilidade, em meio a tantas dificuldades.

Começou a subida, e pensava em tudo que havia passado, na repressão que sofreu ao entrar nas águas da arte, no estouro da guerra, no desespero. Quanto tempo havia passado desde que havia descido àquele inferno frio e escuro? Ele ansiava por respostas; seu peito batia um coração ansioso e desesperado. Pensava no amigo, aquele cientista sereno e brando, e na discussão que tiveram. Talvez desse tempo, após a subida ao mundo, de trazer ajuda a ele, afinal era seu amigo. Muita coisa lhe passava pela cabeça, e seus pensamentos pararam ao ver o brilho da luz, vinda de cima, numa vala que ele reconheceu.

Subiu. Passou do submundo ao seu amado mundo, de artes, prazeres e saber. A primeira coisa que viu foi um clarão, forte e quente. Foi também a última coisa que viu. O clarão deu lugar às trevas. Ficara cego, e daí sentiu medo, muito medo, pois o que disse seu amigo cientista era verdade. Sentiu uma dor forte no peito, a dor misturada de remorso com batidas fortes e descompassadas no coração. Acabou por morrer, sozinho, lembrando da frase que havia escrito.

E não se havia passado três dias desde que tinha entrado na gruta. A guerra continuava, a plenos pulmões, e  agora tinha mais um corpo estendido, não de bala, ou de explosão, mas de luz. De muita luz.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Noite em claro

Eu subo no ponto
Mais alto da cidade,
Pra ver as luzes adormecerem.

Ouvir as mulheres chegarem
Com os tontos, tantos na rua
Assoviando a velha canção.


Eu surto de alegria
Nas luas, na cidade,
Nas cruzes do cemitério.


Ao ver os rapazes
Ressucitar os mortos,
Se erguendo de covas vazias.

Mas eu gosto mesmo,
É de ver você passar
Com seu ar de poesia,
Aos olhos, à sombra da lua,
Esperando raiar o dia.