A você que me lê

Versos editados
Em espaço enfeitado.
Expor minhas ideias
É um pouco arriscado.
Por isso, a você
Que me lê, um aviso:
CUIDADO!!!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Estava aqui...

Perdi minha identidade
Em algum canto por aí.
Quem sou eu? Eu pensava
Que sabia responder.
Já não sei mais
Como fui parar aqui,
Onde foi parar as chaves,
O choro, os documentos,
As lembranças de momento,
O guarda- chuva e o sentimento
De ter a cabeça no lugar.

domingo, 23 de novembro de 2014

Música em comprimidos.

Passa o tempo num passeio,
Passa o caminhão sem freio.
Peça ao passarinho
Pra passar mais devagar.
Que hoje eu sou todo ouvidos
Pra sua melodia
Em bemóis e sustenidos,
Todo grito suprimido,
Mal dosado em comprimido.
Eu abro os olhos
E deixo transbordar,
Em conta- gotas
O que não posso carregar.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Alh(ei)o

Ponha mais alho no tempero
Que hoje estou mais alheio
Do que costumo estar.
Não fica nenhum número,
Nenhum rosto pra lembrar.
Talvez seja melhor assim_
No limite de esquecer,
À beira de desaparecer_
Me falta algo, e é ruim
Estar alheio, mais do que
Costumo estar.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Metade

Sempre foi assim:
Eu sempre digo quase metade
Daquilo que penso.
Dispenso minhas ideias
Porque elas não tem voz.
Porque, no fim das contas,
Eu conto um conto e diminuo
Todos os pontos.
Por isso sou escravo
De tudo que escrevo. Afinal,
Ponho as palavras onde quero,
Antes ou depois do ponto final.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Um assento vago

Senta aqui
Pois eu sei que você sente.
Por favor não aceite
Levar tudo assim, tão só.
Então tire a camada de pó
Desse seu peito e apenas
Sente- se mais perto.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

It' s too heavy

As pedras que escolhi
Para por em cima
Dos problemas que vivi,
São pesadas demais
Pra deixá- las para trás.
Pesadas demais
Para tirá- las do caminho.
Pesadas; não dá, afinal,
Para tirar sozinho.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Inverno

Eu tenho os lábios cortados
De frio e calor,
De tanto sentir,
Saudade e amor.
Acabo por ter
A boca entreaberta
Por não saber o que dizer,
Me calo e aguardo
Parar de tremer.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

G

O sol que me ilumina
Está exposto mundo afora.
No canto dos pássaros,
Nos cantos da boca.
Está aberto até agora
Em acordes dissonantes,
Nas vozes conflitantes
Que levam o silêncio embora

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O que sobrou.

Tinha um copo de veneno
Bem em cima do piano,
E um aviso: "Quem bebeu,
Morreu. Beba devagar,
Já que o azar é seu".
E por azar, não morri.
Mas o veneno corroeu
Por dentro. E o que sobrou
Ainda escorre pelos olhos.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Botão de flor

É botão de flor
Esses seus olhos negros,
Tão carregados
E encharcados de dor.

Desabrocharão abertos,
E enxergará por completo
Que a vida ainda
Lhe reserva muito amor

quinta-feira, 31 de julho de 2014

A cor que sei de cor

A cor
Do teu olho
Eu sei de cor
O tom da tua voz
Em cantos de amor
Ecoa nos cantos
Com cheiro e sabor

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Insônia

Some a noite
Entre nuvens,
Sobre um acinzentado
Véu.

Foge o sono
De entre os dedos,
Sobra olhos abertos, olhando
Céu.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Peso do mundo (8:40)

   Aos 21 anos de idade ele sentia o peso do mundo em suas costas. Tinha chegado à conclusão: "Você é mesmo muito precoce." Ouviu isso com frequência; a avó, os tios, professores, a moça da biblioteca. Não parecia_ rosto limpo, nem barba na cara tinha!_ e quase sempre era 2, 3, 5 anos mais novo. A cabeça, porém, o contrário: quando criança, preferia livros a brinquedos, quase não saía, era estranhamente magro.
   É claro: o peso nas costas. 21 anos. Precoce. Era uma palavra estranha: parecia coçar uma ferida que ainda não chegou. O peso do mundo.
   O que seria o mundo? Família? Emprego? Horário, ônibus, responsabilidade? É preciso fazer isso, fazer aquilo, cumprir, realizar, tomar cuidado. Se proteger. Afinal como se proteger? Se via como um soldado,  só contra um exército inteiro. O peso do mundo é muito injusto.
   Decidiu usar um relógio. Estava parado. Que se dane, estar parado! Era melhor assim. Para ele era sempre 8:40. Um dia, esperando interminavelmente um ônibus, lhe surpreendeu uma moça lhe perguntar as horas. " No meu relógio, 8:40." Ela estranhou, "mas o sol já está a pino! Deve ser meio- dia."
_Bom, no meu relógio é 8:40 desde que acordei.
  Dito a frase, chegou o ônibus, ele entrou, pagou a passagem e sentou num banco. Era preciso pensar, antes de tudo. A vida andava parada, 8:40. Não, não devia olhar por esse lado. Sempre havia um ângulo em que nunca olhamos, ouvira essa frase recentemente. Ou havia lido? Não importa. A vida merecia um novo ângulo, uma nova perspectiva. Perspectiva. Certamente um palavrão, mas fazia sentido. Sendo ainda 8:40, poderia fazer o que não se permitia. Havia tanto a ler, tantos cd' s a ouvir, tanto a haver ainda!
   Adormeceu no ônibus, enfim, com um sorriso. "São 8:40..."

                                                                       /º\/º\/º\

   Sentada no ponto, vendo o sol a pino, e sem saber as horas, esperava a moça. Tinha 25 anos e, pela primeira vez, sentiu o peso do mundo nas costas.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Morreu.

Se eu ando assim, 
Calado, mesmo com
O violão do lado,
A culpa é do sujeito
Que matou a poesia
Dando um tiro no peito.
Agora ando sem jeito
De tocar qualquer canção
No bandolim ou no violão.


domingo, 9 de fevereiro de 2014

Minguante

Minguante, a lua
Num prata vibrante
Expõe seu sorriso
Reluzente, e deixa
A noite linda
E você, apaixonante,
Me olha e diz:
"Avante, me mostre
Que não é só um amante."
Aponto pra cima,
Lhe roubo um beijo
E deixo em ciúmes
Minguante, a lua...

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Alta noite

A vida pula
Na sua veia.
Uma qualquer cai
Na sua teia.

Eu que não espero
Nada acontecer,
Atendo sua chamada
Antes de amanhecer.

Como se impressionasse
Uma ligação à alta noite
Me tirar breve, o sono,
Como escravo, sob açoite.

Eu que não espero
Ter nada a esperar,
Atendo sua chamada
Temendo o que encontrar.

O sono pula
Da minha teia.
E´você entrando, de novo
Na minha ideia.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Conjugado.

Eu te olho,
Tu me olhas de volta,
Ele te chama num grito,
Ela te espera à porta.

Nós pensamos o mesmo:
"Vós pensais errado!"
Eles te prendem a grades,
Elas mentem com cuidado.