A você que me lê

Versos editados
Em espaço enfeitado.
Expor minhas ideias
É um pouco arriscado.
Por isso, a você
Que me lê, um aviso:
CUIDADO!!!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Contradição

Quando a gente quer falar,
Simplesmente nos calamos.
Quando a gente quer dançar,
Nós somente nos deitamos.
E, quando a vontade fala mais alto,
A gente não resiste_
Simplesmente se entrega.




Escrito por Amuppiah

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

No meio do mar

Ao passar pelo mar,
Algo me intrigou:
Um pescador no seu barco
A rede remendada lançou.
E pouco se importou
Com o infinito azul.
De rede cheia e
Sorriso amarelo
Para o mar nem olhou.

Enquanto isso, perto dele
Um turista, que nunca vira
O mar, ficou deslumbrado:
"Ah! A imensidão azul!"
Ficou encantado, mas irritou- se
Com o cheiro do peixe fresco,
O remédio que cura a fome 
Do pobre pescador,
Que pouco importa mais com o mar.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O Desafio

Éramos três: eu caminhava incerto, lápis na orelha, coração na mão pronto para ser lançado. Um segurava uma gaita e na cabeça uma canção. O outro, com fone de ouvido e chiclete na boca. Todos na mesma direção, até pararmos na praça, em frente a um cantor. O senhor olhava sem demonstrar nenhuma reação; parecia estar ali há muito tempo. Tocava seu violão velho, tocando uma melodia que parecia não ter fim. Seu cabelo grande e sua barba branca não se movimentava, apesar do vento castigar os pobres mortais; e ele não parecia se importar com nossa presença.
Perguntei: "O senhor não se cansa de tocar?" Sem responder, ele tocava uma melodia sinistra. Novamente perguntei, e ele nada dizia. Pus a mão no seu braço nu; estava tão frio que me queimei.
O da gaita indagou: "O que o senhor tem?"
E ele nos disse, no ritmo da música: "Dor, cansaço e sede, mas não me traga água, não quero que me atormente". Nos perguntamos o que ele fazia ali, e, sem dizermos nada, ele passou a contar, sem parar de tocar:


"Eu era jovem,
E fazia todos dançar.
Este violão que tanto olhas,
Eu não cansava de tocar.
E eu era muito bom;
Às noites eu tocava,
Com mulheres eu dançava,
As que escolhia eu me deitava
E fazia muito amor.
Me tornei muito famoso
E tudo acontecia sem explicar.
Comecei a ficar orgulhoso
E a vaidade me engolia,
E eu me entregava a ela
Toda vez que me vendia."

"Certa vez um homem disse:
"Tu tens o talento de outro mundo."
E pensei desafiar o Diabo,
E o convidei para dançar;
Nos braços da guitarra
Afrontei o moribundo.
Ele aceitou o desafio:
Engalfinhávamos em combate
E ele saiu vitorioso,
Eu perdi minha guitarra,
Minh'alma foi ao demônio.
E como sina, estou fadado a existir,
Mesmo sem viver.
Este violão que tanto olhas,
Há séculos ele não pára.
Eu sigo minha existência,
Tocando sem descanso,
A música da minha insolência.
Como consequência da minha petulância,
Vejo vocês assistindo minha impotência."

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Toda vez que sol e lua vão ao teatro

Tranquila noite, aquela que há estrelas
E que escurece a melodia que aparece
Toda vez que o sol se põe
E eu me vou por aí,
Cantando a música que a gente ouvia,
Contando os carros que passavam,
E a alegria passa sem a gente perceber
Toda vez que a lua se vai
                      E o azul clareia o dia que vem.

Escrito por Amuppiah

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Grades e muros

Amemos, pois, a vida que temos,
Com a intensidade de um turbilhão,
E com a leveza da poesia
Colher os frutos dessa estação.

Gritemos, pois, por liberdade:
"Que alguém arranque as grades da prisão!"
E desprenda de nós essa tristeza,
Pois pobre de espírito é quem se cerca
De muros e grades, à mercê da solidão.


Escrito por Amuppiah

terça-feira, 3 de agosto de 2010

60

Sei que você, ao me olhar "com seu olhar tranquilo",
Espera de mim uma frase irônica,
Espera que eu devolva, com sarcasmo, um outro olhar,
Espera uma atitude revolucionária, inconformada
Com uma forma de viver e agir.
Aguarda uma música rápida do meu violão,
Acordes graves e letras cobrando pensamentos
E diz: "é um louco que canta";
"Tenta passar a imagem de um insano incompreendido."

Mas hoje, só por hoje, quero dizer uma frase que ainda não foi dita,
Quero devolver, contra um olhar "tranquilo",
Apenas um olhar, distante de qualquer descrição,
Uma música calma e serena, sem letra nem protesto.
Pois não há descrição que possua a força necessária
Para dizer que há um fora-da-lei precisando de descanso.