A você que me lê

Versos editados
Em espaço enfeitado.
Expor minhas ideias
É um pouco arriscado.
Por isso, a você
Que me lê, um aviso:
CUIDADO!!!

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Inverno

É maior do que eu
Essa vontade gigante
De parar tudo ao meu redor.
Só pra observar
O dia morrer
Cada vez mais devagar.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

Entre vidros

O meu globo ocular
  Precisa de vidros
   Prá poder vibrar
        Ao te ver.

sexta-feira, 24 de abril de 2015

No creo

Acredite em mim
Quando eu digo que não sei
Em que mundo eu vivo.
Acabei de descobrir,
Sem saber porque, sem saber dizer,
Em que mundo vivia.

De que planeta você é?
Eu também não sei.
Acabei de descobrir
Que Plutão não é planeta,
Que em nuvem não se deita,
E que "coração na mão"
É só força de expressão.

Acredite em mim quando digo
Que não dá pra acreditar
Que eles percorrem distâncias
Sem sair do lugar.
Que os romances são feitos hoje
Com data e hora pra acabar.

Acredite em mim quando eu digo
Que não dá pra acreditar!

sexta-feira, 27 de março de 2015

De volta

Depois de uns meses de inatividade, cá estou de volta. Me desculpem as teias de aranha e os gatos pingados que passam por aqui de vez em quando, mas estou de volta. De verdade. É sério.



"Eu vou carregando
 A dor de carregar
 Tudo que vejo no caminho.
 Está aí, em cada canto,
 Um caco de mim
 Que caiu da mão
 Por acaso. Casualmente,
 Vez por outra, descarrego
 Em lágrimas e versos
 Involuntariamente.
 Mas, de verdade, a mente
 Bagunça tudo; põe no fundo
 Pra ninguém ver".

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Estava aqui...

Perdi minha identidade
Em algum canto por aí.
Quem sou eu? Eu pensava
Que sabia responder.
Já não sei mais
Como fui parar aqui,
Onde foi parar as chaves,
O choro, os documentos,
As lembranças de momento,
O guarda- chuva e o sentimento
De ter a cabeça no lugar.

domingo, 23 de novembro de 2014

Música em comprimidos.

Passa o tempo num passeio,
Passa o caminhão sem freio.
Peça ao passarinho
Pra passar mais devagar.
Que hoje eu sou todo ouvidos
Pra sua melodia
Em bemóis e sustenidos,
Todo grito suprimido,
Mal dosado em comprimido.
Eu abro os olhos
E deixo transbordar,
Em conta- gotas
O que não posso carregar.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Alh(ei)o

Ponha mais alho no tempero
Que hoje estou mais alheio
Do que costumo estar.
Não fica nenhum número,
Nenhum rosto pra lembrar.
Talvez seja melhor assim_
No limite de esquecer,
À beira de desaparecer_
Me falta algo, e é ruim
Estar alheio, mais do que
Costumo estar.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Metade

Sempre foi assim:
Eu sempre digo quase metade
Daquilo que penso.
Dispenso minhas ideias
Porque elas não tem voz.
Porque, no fim das contas,
Eu conto um conto e diminuo
Todos os pontos.
Por isso sou escravo
De tudo que escrevo. Afinal,
Ponho as palavras onde quero,
Antes ou depois do ponto final.

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Um assento vago

Senta aqui
Pois eu sei que você sente.
Por favor não aceite
Levar tudo assim, tão só.
Então tire a camada de pó
Desse seu peito e apenas
Sente- se mais perto.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

It' s too heavy

As pedras que escolhi
Para por em cima
Dos problemas que vivi,
São pesadas demais
Pra deixá- las para trás.
Pesadas demais
Para tirá- las do caminho.
Pesadas; não dá, afinal,
Para tirar sozinho.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Inverno

Eu tenho os lábios cortados
De frio e calor,
De tanto sentir,
Saudade e amor.
Acabo por ter
A boca entreaberta
Por não saber o que dizer,
Me calo e aguardo
Parar de tremer.

terça-feira, 26 de agosto de 2014

G

O sol que me ilumina
Está exposto mundo afora.
No canto dos pássaros,
Nos cantos da boca.
Está aberto até agora
Em acordes dissonantes,
Nas vozes conflitantes
Que levam o silêncio embora

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

O que sobrou.

Tinha um copo de veneno
Bem em cima do piano,
E um aviso: "Quem bebeu,
Morreu. Beba devagar,
Já que o azar é seu".
E por azar, não morri.
Mas o veneno corroeu
Por dentro. E o que sobrou
Ainda escorre pelos olhos.

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Botão de flor

É botão de flor
Esses seus olhos negros,
Tão carregados
E encharcados de dor.

Desabrocharão abertos,
E enxergará por completo
Que a vida ainda
Lhe reserva muito amor

quinta-feira, 31 de julho de 2014

A cor que sei de cor

A cor
Do teu olho
Eu sei de cor
O tom da tua voz
Em cantos de amor
Ecoa nos cantos
Com cheiro e sabor

quinta-feira, 10 de julho de 2014

Insônia

Some a noite
Entre nuvens,
Sobre um acinzentado
Véu.

Foge o sono
De entre os dedos,
Sobra olhos abertos, olhando
Céu.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

Peso do mundo (8:40)

   Aos 21 anos de idade ele sentia o peso do mundo em suas costas. Tinha chegado à conclusão: "Você é mesmo muito precoce." Ouviu isso com frequência; a avó, os tios, professores, a moça da biblioteca. Não parecia_ rosto limpo, nem barba na cara tinha!_ e quase sempre era 2, 3, 5 anos mais novo. A cabeça, porém, o contrário: quando criança, preferia livros a brinquedos, quase não saía, era estranhamente magro.
   É claro: o peso nas costas. 21 anos. Precoce. Era uma palavra estranha: parecia coçar uma ferida que ainda não chegou. O peso do mundo.
   O que seria o mundo? Família? Emprego? Horário, ônibus, responsabilidade? É preciso fazer isso, fazer aquilo, cumprir, realizar, tomar cuidado. Se proteger. Afinal como se proteger? Se via como um soldado,  só contra um exército inteiro. O peso do mundo é muito injusto.
   Decidiu usar um relógio. Estava parado. Que se dane, estar parado! Era melhor assim. Para ele era sempre 8:40. Um dia, esperando interminavelmente um ônibus, lhe surpreendeu uma moça lhe perguntar as horas. " No meu relógio, 8:40." Ela estranhou, "mas o sol já está a pino! Deve ser meio- dia."
_Bom, no meu relógio é 8:40 desde que acordei.
  Dito a frase, chegou o ônibus, ele entrou, pagou a passagem e sentou num banco. Era preciso pensar, antes de tudo. A vida andava parada, 8:40. Não, não devia olhar por esse lado. Sempre havia um ângulo em que nunca olhamos, ouvira essa frase recentemente. Ou havia lido? Não importa. A vida merecia um novo ângulo, uma nova perspectiva. Perspectiva. Certamente um palavrão, mas fazia sentido. Sendo ainda 8:40, poderia fazer o que não se permitia. Havia tanto a ler, tantos cd' s a ouvir, tanto a haver ainda!
   Adormeceu no ônibus, enfim, com um sorriso. "São 8:40..."

                                                                       /º\/º\/º\

   Sentada no ponto, vendo o sol a pino, e sem saber as horas, esperava a moça. Tinha 25 anos e, pela primeira vez, sentiu o peso do mundo nas costas.

quarta-feira, 23 de abril de 2014

Morreu.

Se eu ando assim, 
Calado, mesmo com
O violão do lado,
A culpa é do sujeito
Que matou a poesia
Dando um tiro no peito.
Agora ando sem jeito
De tocar qualquer canção
No bandolim ou no violão.


domingo, 9 de fevereiro de 2014

Minguante

Minguante, a lua
Num prata vibrante
Expõe seu sorriso
Reluzente, e deixa
A noite linda
E você, apaixonante,
Me olha e diz:
"Avante, me mostre
Que não é só um amante."
Aponto pra cima,
Lhe roubo um beijo
E deixo em ciúmes
Minguante, a lua...

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Alta noite

A vida pula
Na sua veia.
Uma qualquer cai
Na sua teia.

Eu que não espero
Nada acontecer,
Atendo sua chamada
Antes de amanhecer.

Como se impressionasse
Uma ligação à alta noite
Me tirar breve, o sono,
Como escravo, sob açoite.

Eu que não espero
Ter nada a esperar,
Atendo sua chamada
Temendo o que encontrar.

O sono pula
Da minha teia.
E´você entrando, de novo
Na minha ideia.

domingo, 19 de janeiro de 2014

Conjugado.

Eu te olho,
Tu me olhas de volta,
Ele te chama num grito,
Ela te espera à porta.

Nós pensamos o mesmo:
"Vós pensais errado!"
Eles te prendem a grades,
Elas mentem com cuidado.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Quase tanto tempo

Já faz quase muito tempo
Que a gente não se vê.
Como quem acorda assustado,
Sem saber o que fazer.

Eu fiquei ali, parado,
Esboçando o que dizer.
Já faz quase tanto tempo
Que a gente não se vê!

Eu andava tão perdido
E era até de se estranhar,
Que no meio de tanta gente estranha
Eu pudesse te encontrar.

Eu tentei encontrar algo
Que pudesse acabar
Com o silêncio desconcertante
Que pairava no nosso olhar.

Já faz quase muito tempo
Que a gente não se vê.
E eu fiquei abestalhado
Sem saber o que fazer.

Eu achava tão esquisito
Ficar assim, paralisado
Mas fazia mesmo tanto tempo
Que'u me sentia acorrentado.

Eu fiquei ali, parado,
Esboçando o que dizer.
Já faz quase tanto tempo
Que a gente não se vê.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Fantasma

Eu disfarço
Sua cara de louca
E despisto
Sua voz rouca.
Te jogo um pano
Branco, um pano
Por cima da roupa.
Parece um fantasma,
Uma aparição.
Minha visão é pouca,
Sua agonia é muita
Está escuro e
Eles chegaram;
Não dá pra fugir.
Mas agora vê é fantasma
E só eu vou ver
Quando você sumir.

domingo, 1 de setembro de 2013

Parou!

O mundo parou, num certo dia,
Quando pairava no ar uma tal alegria
E as nuvens ainda eram brancas.

Os carros ficaram parados, no sinal,
A roupa ainda pingava no varal
E as pessoas esticavam conversas francas.

De repente, o mundo voltou a girar.

E a alegria era só uma frente fria,
Como uma brisa que volta pro mar
A apatia voltou a reinar.

Os carros retornaram à velha correria,
O varal voltou a ficar vazio
E nas ruas_nem conversa, nem assobio.

Como é triste a nostalgia!

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Vendo (o movimento parado)

Tudo anda tão parado
Tudo tão enfileirado;
Fila de carro, fila de banco,
Fila pra cair no mesmo buraco.

Tudo anda tão desajeitado,
Como quem é pego fazendo errado,
Que muito se lucra vendendo jornal
Cheio de sangue de gente normal.

O movimento para,
Para pra comemorar,
Que todo mundo tem carro
E uma vaga à ocupar.
O coração congela,
Aponto de entorpecer.
Isolando o amor,
O deixando morrer.


sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Cartão- postal

Ei, vem ver o que
Eu deixei preparado
Antes de dizer adeus,
E não te ter ao lado.

Vem ver que eu
Reservei o melhor das montanhas,
Fora do cinza da nossa cidade.
O que ainda não se perdeu.

Se você quiser eu deixo
A porta entreaberta.
Pra não pensar que tá presa,
E desistir, sem presa e sem luta.

Um cartão- postal só nosso,
Entre as curvas da floresta.
Pra saber se eu posso
Saber o que me resta.


terça-feira, 23 de julho de 2013

O sonho

Antes de acordar
E voltar a realidade
Eu queria lembrar
Dessa loucura, liberdade.

De montanha russa,
Montada às pressas
E a gente ali, de bicicleta
Fazendo as últimas promessas.

Antes disso tudo
Acabar guardado nalguma gaveta
Trancada, na mente agitada
De quem não faz careta,

A gente bem que podia
Anotar como se chega
Nesse lugar dos sonhos,
Onde alegria se rega,

E se come os frutos sem regra.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Devaneio (toda vez que você passa)

Toda vez que você passa
Eu passo a mão pela cabeça
A imaginar se alguém fica passado,
Toda vez que você passa.

Toda vez que você passa,
Lhe passo os olhos, como câmera,
Despretensiosamente, registrando,
O instante que se passa.

Toda vez que você passa
Me passa um trem estranho,
Descompassado, pelo peito.
Penso: "Quem sabe, um passeio."

Toda vez que você passa,
Eu penso em deixar
A amizade no passado
E seguir os passos do amor.

Toda vez que você passa
Eu sinto tudo devagar.
Mas meu devaneio passa
Quando você passa a reparar.


sexta-feira, 5 de julho de 2013

Inverno

Eu me lembro bem o que ouvi
No dia que existia nós dois:
"Que seja eterno, como o inverno,
Como esperar o que vem depois."

E agora eu estou, e você também,
Esperando a próxima cena.
Ignorando que o tempo passa
Até pros amores de vida serena.

Estamos vivendo à sombra
De gigantes, escondendo os passos
Largos que a vida dá, sem poder
Segurar por entre os braços.

Por isso eu corro o risco,
Rasgo a cortina e arrisco
Nunca mais te ver.

Nosso amor é eterno
Mas será que temos tempo,
Algum tempo a perder?


terça-feira, 14 de maio de 2013

Botão de rosa

Quando eu cruzei a porta,
Para nunca mais voltar
Venta, e sopra seu perfume
Perfura o ar obstinado
De quem iria prosseguir,
E completar o inacabado.
Mas não consegui fugir!
Cruzo a porta, aos seus braços,
Porque eu, botão de rosa,
Eu não sei mentir.

E se você quiser
Eu mudo o tom
Pra nossa voz se misturar
E formar o som,
De uma nota só,
De um amor só.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Cão

Sob o brilho dos faróis,
Na estrada, a 100 por hora
Já não tenho a sensação
De perder mais um agora.

Hoje eu estou mais longe
Do que poderia estar.
Como um cão atrás do rabo,
Eu insisto em rodopiar.

É mais um dia dia, virou noite,
O céu, a lua me apavora.
Já não tenho a direção
De pra onde vou agora.

Hoje eu estou mais perto,
Donde não queria chegar.
Tenho um grito preso ao peito
Onde a loucura insiste em chegar.
Como um cão atrás do rabo
Eu persisto em lhe procurar.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Trovador?

Tu esperas que eu
Lhe faças juras declamadas.
Como se eu fosse trovador
E tu, minha jovem declarada.

E entendo seu sofrer,
Pois do amor, ganhaste crueldade.
Acumulas, da dor, as chagas
Diferentes ao virar de cada idade.

Mas não posso afirmar
Que apoio causa tão nobre.
Pois de versos e rimas
Sou eu_ o homem mais pobre.

Só tenho um coração
Que ainda não abriga poesia.
Mas carrega teu amor
Mais forte, ao passar o dia.


quinta-feira, 7 de março de 2013

Em aberto.

O vento que sopra
E atravessa o peito;
Só deixa o frio,
E aumenta o vazio
De quem não ama
E olha pro teto.
Preenche com música
E poesia, o buraco
Cada vez mais aberto.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O Lamento do Marujo

Se tu soubesses
O quanto foi ruim
Içar as velas,
Numa viagem sem fim,
Terias aparecido no cais.
Ó Deus, apiedai de mim!

Agora me atormenta
A última vez
Que vi seu rosto.
A tristeza de fez,
Quando não pude enfrentar
Tamanha palidez.

O temor de não voltar
É meu medo maior.
Pois o vento que aqui sopra,
Diz que a morte vai se impor.
E que desta grande nau
Não sobrará, nem lamento, nem amor.


domingo, 13 de janeiro de 2013

"A luz que ilumina, pode cegar"


"Quem é que sabe, é o que pensa ou o que arrisca?
 Quem é que sabe, saberia ou saberá?"   __Oswaldo Montenegro

É um tempo em que, provavelmente, nenhum de nós verá para contar história. Em uma fuga de uma batalha nuclear mundial, se esconderam juntos, no segundo dia de guerra, numa gruta, um homem, 40 anos, cientista que achava que toda essa confusão era culpa do muito conhecer dos homens. Pensava que "a sede insana da humanidade por respostas os levou a esse Apocalipse". Junto dele se escondia um jovem, 20 e poucos anos, artista em acensão, impetuoso e rebelde, digno da época que nasceu. Passaram tanto tempo, conversando de suas vidas, de como a guerra frustara seus planos, de seus alvos para o futuro, que se tornaram grandes amigos.

Trouxeram consigo mantimentos para passar o período da guerra e, se durassem até o fim dela, sairiam dali, sãos e salvos. Mas um dia seus mantimentos acabaram, e veio uma fome tremenda. Na gruta, os dias passavam sem que se tomasse conhecimento, tão escuro e sombrio o local. Tomando forças para conversar, o jovem disse ao seu amigo cientista:
"_Não podemos morrer de fome aqui. Me lembro de, ao descer pra cá, haver alguns arbustos na parte de cima da gruta. Talvez dê para comermos algo de lá." Seu amigo, porém, estava guardando forças, pois ficara fraco com a fome. Apenas sorriu e acenou, concordando.

O jovem subiu com dificuldade, mas chegou a um ponto alto da gruta, onde havia, sim! arbustos e restos de alimentos. "Provavelmente quem esteve aqui preferiu não descer muito," pensou.  Trouxe o despojo com ânimo renovado, e dividiram, felizes e recuperados. Mas não tardou a fome voltar; ao passar de alguns dias, o artista, com rebeldia restaurada, perguntou ao seu amigo cientista:
"_Vamos ficar aqui, parados, e morrer de fome? Talvez dê para subirmos à superfície. Não vê? Já passamos muito tempo aqui; nem sei em que ano estamos! Temos de voltar." O cientista logo se opôs:
"_Passamos muito tempo nessa gruta, e nos acostumamos à pouca luz. Poderíamos ficar cegos se nos expusermos repentinamente à superfície. Fora o risco de parada cardíaca, com o choque da cegueira repentina. Não compensa morrer dessa forma." O jovem não acreditava no que acabara de ouvir. Seu único amigo nesse tempo todo, com quem dividiu vida e pensamentos, preferia morrer, resignado, numa gruta pela fome! Era uma ideia que ele não aceitava.
_Então você prefere apodrecer aí, sem lutar pela única maneira sensata de viver?
_E qual seria?
_Lutar! É por isso que a humanidade escapou tantas vezes de ser dizimada por predadores, doenças, ditadores. Lutando que eu cheguei até aqui, e estou vivo ainda, de pé, conversando com você!
_Meu amigo, foi por lutar e querer sobreviver a qualquer motivo que nós tivemos que nos refugiar nessa gruta. Não compensa morrer assim.
"_Você é mesmo muito acomodado! Tolice, tudo o que disse! Tolice, eu ainda continuar a falar com você!" Seus olhos marejavam lágrimas, de ódio e tristeza, pois estava dividido entre morrer lutando e sozinho, ou morrer parado, acompanhado de seu único amigo. Decidiu que iria subir, sem olhar para trás.
"_Tem algo a me dizer, antes de nós nos separarmos?" Sua voz era agora doce e suave."Sim. Olhe a frase que você escreveu no primeiro dia que entramos aqui. O jovem olhou a parede que decorara com uma frase escrita com o sangue das suas mãos:
                                      "A luz que ilumina, pode cegar"
Ele olhou para seu amigo, agora magro, desgrenhado, de barba grande, e deu um abraço. Nunca, nesse tempo todo que estiveram juntos, havia dado um abraço no amigo mais velho. Talvez tivesse perdido a sensibilidade, em meio a tantas dificuldades.

Começou a subida, e pensava em tudo que havia passado, na repressão que sofreu ao entrar nas águas da arte, no estouro da guerra, no desespero. Quanto tempo havia passado desde que havia descido àquele inferno frio e escuro? Ele ansiava por respostas; seu peito batia um coração ansioso e desesperado. Pensava no amigo, aquele cientista sereno e brando, e na discussão que tiveram. Talvez desse tempo, após a subida ao mundo, de trazer ajuda a ele, afinal era seu amigo. Muita coisa lhe passava pela cabeça, e seus pensamentos pararam ao ver o brilho da luz, vinda de cima, numa vala que ele reconheceu.

Subiu. Passou do submundo ao seu amado mundo, de artes, prazeres e saber. A primeira coisa que viu foi um clarão, forte e quente. Foi também a última coisa que viu. O clarão deu lugar às trevas. Ficara cego, e daí sentiu medo, muito medo, pois o que disse seu amigo cientista era verdade. Sentiu uma dor forte no peito, a dor misturada de remorso com batidas fortes e descompassadas no coração. Acabou por morrer, sozinho, lembrando da frase que havia escrito.

E não se havia passado três dias desde que tinha entrado na gruta. A guerra continuava, a plenos pulmões, e  agora tinha mais um corpo estendido, não de bala, ou de explosão, mas de luz. De muita luz.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Noite em claro

Eu subo no ponto
Mais alto da cidade,
Pra ver as luzes adormecerem.

Ouvir as mulheres chegarem
Com os tontos, tantos na rua
Assoviando a velha canção.


Eu surto de alegria
Nas luas, na cidade,
Nas cruzes do cemitério.


Ao ver os rapazes
Ressucitar os mortos,
Se erguendo de covas vazias.

Mas eu gosto mesmo,
É de ver você passar
Com seu ar de poesia,
Aos olhos, à sombra da lua,
Esperando raiar o dia.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

O Velho e o Jardim

A solidão do homem velho,
Entre as folhas do jardim.
Suspira fundo, sob o espelho;
Suspira a tulipa, suspira o jasmim.

Pois ele não gosta mais dos seus,
Ter companhia não o satisfaz:
"Viver não é capricho meu.
Morrer hoje, ou amanhã, tanto faz!"

Por isso vive, assim, sozinho,
E prefere plantas, àquela gente.
Pois flores não cobram carinho
E o homem jamais está contente.


segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Conto de "Nãotal"

Hagar achava bonito o Natal.
Gostava de ver as luzes nas janelas, as luzes das lojas, as luzes nas árvores do quintal de casa. Achava bonito os duendes, as renas e os anjinhos de decoração. Gostava de comer os quitutes da ceia; os doces, os salgado
Mas Hagar não entendia o porquê do Natal. Mesmo depois da grande vivência de 6 anos, esse ainda era um grande mistério para ele. Numa véspera de Natal, Hagar resolveu perguntar à sua mãe:
_"Mãe, por que a gente comemora o Natal?" Ela foi pega de surpresa. "Ora Hagar,..... é, .... é porque é uma data especial", disse, titubeando.
_Especial por quê?
_Porque comemoramos o nascimento de Jesus.
_E por que o nascimento de Jesus é tão importante?
_Hagar, você não tem prestado atenção no catecismo, não é? Foi nessa data que ele nasceu, e por Deus ter morrido a gente pode ser salvo.
_"Mas não foi Jesus que nasceu? Como nasce Jesus e morre Deus? Eu pensava que a morte dele que era importante, não o nascimento", disse o garoto, confuso.
_"É..... uhm...... Ah! garoto, para de perguntar esse monte de coisa", cuspiu sua mãe, apertando os lados da cabeça. "O que importa mesmo é juntar a família, a paz e a comunhão nessa data".
_Mas só no Natal que se junta a família, a paz e a comunhão?
_Não; mas é porque é feriado.
_"Mas não existe feriado o ano todo? Porque tudo isso só no final do ano? E o que que o Papai Noel tem nisso tudo? Eu não lembro dele na história de Jesus." Sua mãe percebeu a mesma coisa: ela também não entendia o Natal. E vendo seu pequeno questionar algo, de forma tão lógica e inteligente, lhe surfiu a dúvida: Porque a gente comemora mesmo o Natal?

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Janela aberta

Olha, o dia bonito
Que você pagou pra ver,
Com seus olhos castanhos
Duvidando que o faria merecer.

Vem abrir essa janela
E deixa a mente flutuar.
Pra você sentir o vento
Seus cabelos afagar.

E te fazer, perceber
Que o sol, lá fora, só te quer bem.
E o lápis em seus olhos
Não vai mais repelir ninguém.

Olha, que belo presente!
O mundo compôs uma canção
Pra você ouvir sentada,
E poder chorar de emoção.

Vem abrir essa janela,
E deixa as aves t'encantar.
Estão tocando flauta doce,
Pra você acompanhar.


E te fazer, perceber
Que o sol, lá fora, só te quer bem.
E o lápis em seus olhos
Não vai mais repelir ninguém.


terça-feira, 27 de novembro de 2012

À espreita (pode entrar)

Ela deu com o rosto
À minha janela.
Como quem implora a entrada,
Como quem não quer perder nada.

Desiste e sai.

Ela fica às voltas
Com os sorrisos nas ruas.
tentando disfarçar a ânsia
Nos olhos azuis da criança.

Não resiste e volta.

Ela aguarda o abrir da porta;
Alguém saindo pra não voltar.
Do silêncio veio a resposta,
Que mil palavras não puderam expressar:

"Felicidade, pode entrar."

terça-feira, 26 de junho de 2012

Floresta dos renegados

Na floresta dos renegados
Onde vivem os imutáveis
Que cantam uma outra canção,
Eu encontrei um lugar entre os odiados.
Aqui as árvores dançam sem pudor,
Na floresta dos renegados
A saudade não corta o peito,
E todos são o que quiserem:
Alfaiates, poetas mal amados,
Cantores, cozinheiros, artistas sem defeito.
porque não há morte nem calor
Na floresta dos renegados.

domingo, 17 de junho de 2012

Saudade

Enquanto houver
Distância e silêncio
Haverá a saudade
Batendo no peito.

terça-feira, 1 de maio de 2012

O céu, o louco e o são (ecos)

Levantei minha voz
No meio da noite vazia,
Para ver se havia alguém.
Se um lúcido responderia.

E não houve ninguém,
Nem louco nem são.
Que soprasse ao pé do ouvido
Ou gritasse na escuridão.

Nessa hora a lua sumiu
E as estrelas se esconderam.
Havia medo no céu nublado,
Da resposta se omitiram.

Nem o eco da minha voz
Me devolveu um tapa no rosto.
Gritei, no mais alto tom
De cólera e desgosto.

Eu só queria saber se havia
Alguém que não se sentia só.
Mesmo estando junto de todos
Aqueles, formados do pó.

Levantei minha voz
No maior dos esforços, em vão.
Pois o céu, o são e o louco
Andam juntos na solidão.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Através das eternas gotas

Toda vez que a chuva
Bate na janela, sem pedir licença,
Invade, inteira, minha solidão.

Interrompe, de uma vez,
Meus pensamentos, ao olhar pra'ela
E vê- la chicotear o chão.

São meus olhos tristes
Que tentam, sem sucesso, encontrar você
Através das eternas gotas.

Despencando, como folhas,
Do céu ao chão; nem dá pra dizer
De tal doçura em outros planetas.

O meu corpo segue errado,
Feito carro na contramão.
Que caminha, lado a lado,
Entre a fé e a razão.

Permanece atormentado,
Sem encontrar resposta:
"Afinal, o que bate no peito
É instrumento de sopro
Ou de percussão?"

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Outra história de Tom Sawyer

Hoje eu guardei uma flor,
Dentro de um velho livro.
Para a proteger do vento,
Do tempo e do frio.
Não deixar que envelheça
Como papel amarelo de fotografia.
Guardei uma flor amarela
Na solidão branca do livro
Pra esquecer o amor
Que você jurou um dia.
E guardar essa dor
Pra outro momento de agonia.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Belo Horizonte


Perco quase metade
De tudo que quero escrever.
E vou encontrando, no caminho,
Palavras tortas, espalhadas
Nessa tal de "Belorizonte".

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Tempos de criança

Há um sopro de vida
Atrás das montanhas
Onde o sol reluz ainda
Os nossos tempos de criança.

Onde o vento soprava mansinho,
Afagando as flores do quintal.
E a noite caía sobre nossos olhos
E a gente ria assim, tão natural,
Como se o pôr-do-sol despertasse
A nossa alegria mais inocente.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Pra você não lembrar


"Passei o passado a limpo"
 Pra você não lembrar dele
 Todo sujo e amarrotado.
 E pra não te passar na cabeça
 A suspeita de cada um
 Que cruza nosso passeio,
 E encara nosso beijo
 Com olhos arregalados.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Poeta fugitivo

Eu sou um poeta fugitivo
Sem registro em nenhuma Academia.
Acusado de não saber de métrica
E de escrever o que o vento dizia.

Mas eu sou daqueles
Que diz ser inocente.
Um teimoso indecente
Por viver se escondendo.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Entre máscaras e lentes

Quem soprou a razão
Ventilada nesse quarto?
A gente brinca de fingir,
De estar emocionado.

Tudo segue assim,
Tão bem ensaiado.
Que o fim parece sempre
Ser sempre tão dramático.

Pelo menos uma vez
Vamos por a máscara de lado.
E voltar a ser quem somos
Pra irmos juntos ao teatro.

E tirar as lentes, pr' eu ver
No meu verde seus olhos castanhos.
E ter de novo o céu
E seus cabelos embaraçados.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Céu noturno

Quando olho para cima,
Não sei se vejo estrelas nos holofotes
Ou se vejo holofotes nas estrelas.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Xote lento

Eu vou no passo de quem anda
Lentamente, para a sombra.
E nem me importa que é na rua,
É no sol que o povo dança.

Porque meu passo é muito lento,
E eu não consigo acompanhar,
Essa donzela que eu tento
Nesse xote conquistar.

Passo as horas, esperando,
O meu louco, amigo vento.
Venta forte, vem chovendo!
Porque eu sei, que ainda é tempo
Da donzela ser meu par.

domingo, 25 de setembro de 2011

Despedida

Vou- me assim, embora,
Embora para outro planeta.
Vou- me assim, embora,
Sem tapete vermelho nem trombeta

Vou- me assim, embora,
"Sem a menor chance, nem vontade de voltar".
Vou- me assim, embora,
Apenas com mil destinos a desenhar.

Não levo fé nenhuma,
Em te levar comigo.
Na cauda de um cometa,
Caindo do precipício.

Vou- me assim, embora,
Embora sem razão nem porquê.
Vou- me assim, embora,
Pra longe da face brilhante da TV.


Não levo fé nenhuma,
Em te levar comigo.
Na cauda de um cometa,
Caindo do precipício.

Talvez, um dia, você entenda,
Seu amanhã, pra mim, é agora!
E por não poder mais esperar,
Vou- me assim, embora.


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Clamor

Ó chuva, vem regar a terra
Que clama por ti, seca e sedenta:
"Won't you please, please help me?"


Vem limpar o ar carregado
Desse dia que amanheceu embaçado,
Que adormece escondendo as estrelas.

E vem fazer a espera desse amante,
Que deixou o guarda chuva na estante
Para sentir na pele o peso do alívio.

domingo, 4 de setembro de 2011

Família


Porque a família aparece de repente,
Como brisa que alivia a tensão
Do viajante cansado do sol,
E vai levando a canoa do pescador,
Carregando sua rede e seu anzol.
E nem se faz preceber, de tão natural
Que é inevitável soprar alegria
Em outras paisagens.


terça-feira, 16 de agosto de 2011

A queda

Das muitas maneiras que tinha
De colorir as flores do jardim,
Escolhi aquela que não tivesse fim.
Vermelhas de indignação, quando caíam
Dependuradas duma árvore.
Ficavam roxas, mas preferiam
Murchar aos olhos de quem passava,
Do que viver presa naquela que a sustentava.

sábado, 6 de agosto de 2011

O que arde no peito ninguém vê

Ó tu, que passas correndo,
Fugindo do tédio e da morte,
Contando as horas, pra ver se dá sorte
De não se preder no caminho.

Ó tu, que te jactas de ter
Asas nos pés, qual homem mortal,
Desenhando no vento a canção ideal
E colocando o coração no meio da highway.

"Oh captain, my captain",
Driblaste o tédio neste exílio chamado vida,
E acumulaste pra ti mais civilização.
Mas o que arde no peito ninguém vê não!
passaste por mim, e eu entendi,
Que tu não vives mesmo em vão.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Século de silêncio

Os dias parecem séculos,
Quando nos invade o silêncio.
E trocamos olhares evasivos
Quando o dia corre lento.
Corta fundo a pele, e como dói
Ver o tempo se arrastar sem medo.
Como se desacelerar arrancasse
Os anos da minha mão,
E tudo aquilo que não foi dito
Passasse a deixar marcas no tempo.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Eclipse

Ele olhava para o céu, e ria.
Respirava ofegante, descompassado,
Mas qualquer um que corresse
Num morro como ele estaria cansado.
Um momento de felicidade acontecia,
E seu rosto brilhava: talvez de suor,
Lágrimas ou talvez o sorriso que a lua trazia.
Ele chorava, do tédio ao seu redor,
Das pessoas que andavam, apressadas,
Para a TV que os chamava.
E não percebiam que o show era no céu.
E que o pranto que trazia tristeza,
Trazia alegria nos olhos que observavam a lua
E via nela coberto um véu.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Arcádia


Por todos os medíocres
Que ainda teimam em viver
Uma vida mansa no mar,
Voar sozinho com os peixes,
Navegar, naufragar, se evolver
Com o mar, ficar cansado,
E ver os frutos do trabalho;
Pois o dia seguinte
Já não consome a felicidade.


terça-feira, 24 de maio de 2011

A arte de fingir

A gente finge que tá tudo bem,
Quando os olhos ficam úmidos
E não há o que dizer.
Engole todas as lágrimas
Para não sentir no rosto
A dor no caminho que ela percorrer.
Traz consigo, na garganta,
Um grito suprimido
E a vontade de correr.
Fingir, a gente até tenta,
Mas os olhos ficam úmidos
E todo mundo consegue perceber.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Antes de qualquer queda...

Antes de ela cair
De um precipício sem fim,
Gostaria de perguntá- la
Se ela se arrepende,
Caso ela fosse mais feliz.
Se ela poria um sorriso
E sentiria o rosto se mexer,
E,então, veria no seu rosto,
Enquato caísse,
Qual seria sua reação.
Se, de repente, sentiria
Que fizera a escolha errada.
Se talvez estava com medo,
Pois é o que se sente
Quando o rosto está rígido
E a gente não consegue sorrir.

domingo, 1 de maio de 2011

Prêmio Versatilidade!?

Incrível como estas coisas me pegam de surpresa... 

"É surpreendente como a vida em comunhão entre blogs nos faz mais poetas, aproxima-nos contagiantemente numa velocidade e numa comunicação inigualáveis. Este prêmio é distribuído ao "blogueiro versátil", aquele que transpõe sua idiossincrasia, dando forma, sabor, experiência a um eu-lírico que clama por novos horizontes e desafios metamórficos."




Quem teve a gentileza de me premiar de tal forma foi Daniela Damaris (http://artedepoetizar.blogspot.com), poetisa fantástica que, apesar da enorme distância nos separando, sabe que esses quilômetros não impede a poesia de atravessar fronteiras. Minha admiração a essa artista genial!



"As regras para receber o prêmio estão dispostas logo abaixo:

1. Agradecer e linkar de volta o blogueiro que lhe enviou o prêmio.

2. Dividir 7 coisas sobre você.

3. Premiar outros 5 a 15 blogueiros.

4. Entrar em contato com esses blogueiros para avisar sobre os prêmios e para que eles levem o selo da versatilidade para seu blog e distribuam a outros colegas blogueiros."

Bom, vamos então ao ritual:

7 poesias ao meu redor (ou seja, coisas/situações que estão ao meu redor, colorem meu dia e, de certa forma, me inspiram), em qualquer ordem:

1. tocar violão em noites estreladas;
2. um bom livro;
3. chuva no rosto(motivo dos meus muitos resfriados);
4. conversar com minha mãe de manhã cedo;
5. reflexo da água;
6. chá de abacaxi numa manhã fria;
7. um papel em branco.

É um pouco complicado falar de si, admito. Sem mais delongas, os indicados a esse prêmio, segundo minha atrapalhada opinião:

Bárbara Aiala
Selene
André Martins
Gabriel Pessoto
Thuane Munck
Todos os que sempre passam por aqui(e todos os que passa de quando em vez), sou muito grato. Faço minhas as palavras de um tal poeta: ... "E hoje quem não cantaria, grita POESIA e bate o pé no chão"!!!!!

terça-feira, 12 de abril de 2011

Andarilha


Ela saiu. Bandolim nas costas.
Em debandada, com outros sentires,
Mas só, fugindo de grades e portas.

Pensava em morar
No alto do prédio, no conforto,
Para compor seus rocks
Sentada no sofá.

Mas ela morria de medo
Toda vez que olhava para baixo,
E tudo parecia confuso.
Desejava pular, e ver
Se era leve o suficiente
Para não cair.
Mas receava a morte,
E saiu novamente.
Fugiu, procurando redenção.

Alegria ainda procura
Um lugar tranquilo,
Para tocar seu bandolim
Sem medo de altura.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Entre as placas tortas

Mais um dia que amanhece
E tudo é sempre igual:
Lutar por mais um dia na selva,
Com tantas idas e voltas.
E eu estou aqui,
Parado em meio a placas tortas,
Esperando ser levado para lugar algum,
Sendo entortado por corpos apertados,
Que se espremem para ter
Mais um suspiro de vida.
E, nesse dia que amanheceu indeciso,
Eu espero é cair a noite
E poder olhar no céu um enxame
De estrelas, e procurar entre elas,
As que se ligam e formam seu nome.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Contagem regressiva

Quanto tempo passou,
Desde que você disse adeus,
E, destemidamente não olhou pra trás?

Quanto tempo tem
A sua renúncia de tudo para mostrar a todos
Que está "livre" de todas as grades?

Quanto tempo ainda há
Para você bater no tambor,
Tentando mostrar que está feliz?

Quanto tempo ainda há de passar,
Até você parar de se debater na água
E decidir nadar ou morrer afogado?

E, "pelo amor de Deus",
Quanto tempo ainda hei d'esperar
Até eu ver as lágrimas se secarem,
E eu voltar a ver seu sorriso bambo
Estampado nos meus olhos?

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Numa noite quente de verão

Numa noite quente de verão,
Quem tem coragem de encarar
A espera do sono que não vem,
E a dor de acordar?

Numa noite quente de verão,
Quem tem medo de enxergar
A face crua no espelho,
E a nudez na hora de amar?

Numa noite quente de verão,
Quem te espera acordar
Com a janta quente, enjoado
De te ouvir reclamar?

O vento que passou no nosso lar
Invadiu; entrou sem avisar.
Captain, a vida é muito cruel!
"Chora, e arranca fora o que não te faz bem".

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

'79

Se o Vento consentisse
Em nos levar daqui,
Eu faria um esquife de vidro
Coberto de flores,
Para nos guardar pela eternidade,
Nos proteger dos horrores
E ficaria contigo o tempo necessário.
Deixaria a poeira baixar,
Esperando o momento que
A flor da nossa idade
Fosse descoberta, e não 'houvesse
Quem nos fizesse tremer'.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Com o monstro na minhas costas

Procuro um refúgio, vou para o ermo.
Estou como fugitivo, vagando errante
Para um lugar onde não haja lembranças
Minhas, nem as de ninguém.
A coisa mais triste num homem,
É quando ele tem de fugir de si.
Mas meus erros são muitos
E me perseguem sem descanso.
Por isso, me dê asas para voar,
Pois vou pro mais longe possível,
a um lugar onde não haja sol nem espelhos
Para que, de repente, não me assuste
Com o monstro nas minhas costas,
Apenas esperando minha fraqueza
Manifestar- se, e ele me devorar por completo.

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Sol nos teus pés

Eu não consigo entender
Esse sol nos seus pés,
Toda vez que você anda.
Que parece não queimar
As pegadas incertas
Que aparecem na escuridão.


Eu não consigo entender
Tantos romances que são feitos,
Na tela de um computador.
E parecem não se importar,
Que a distância que os une
Os separa devagar.


E eu queria gritar para você ouvir.
Pois só você poderia entender.
Que eu sou um fora da lei
Precisando de descanso.


Eu não consigo entender
Esse sorriso no olhar,
Toda vez que vai dizer
Que eu não preciso me preocupar.
Pois as vozes que ouço antes de dormir
São apenas a televisão.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Juventude

Era uma flor e parecia eterna,
Seu pequeno broto de rosa
Não desabrochara ainda.
Mas arrancava olhares
De homens ocupados
E de trabalhadores atrasados.

Quando o broto começou a se abrir,
Foi em meio a pedras,
E a chuva castigava cruelmente.
Cheguei a pensar
Que seria difícil ver
Tanto sofrimento em tentar viver;
Mas caso a teimosia
Insistisse em ficar,
Seria por demais belo
Contemplar a rosa
Em seu esplendor.

"Depois da tempestade vem o arco-íris",
E, realmente, era beleza de outro mundo:
Ela parecia ter sido presenteada
Com a delicadeza,
E era de se emocionar ver a rosa
Esbanjando sua vida.

Não é por demais dizer
Que ela desfaleceu, pouco a pouco,
E suas pétalas caíram vagarosamente;
Que os homens atarefados fitavam-na
E se sentiam menos despreocupados;
E os trabalhadores ficaram pontuais.
Pois a beleza da juventude é como uma rosa:
É bonito de se ver,
É triste de se perder
Mas é essencial para perfumar,
O nosso atarefado ar.

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

O rio e a chuva

Ouvi dizer,
Que lá fora existe um rio verde.
E tu sempre bebe água dele,
E toda vez que chove
Ele fica cristalino.

O verde que ele ganha
Vem dos teus olhos castos.
É que a chuva não gosta de ti,
Por isso pinta de cristal
O rio que colores só de olhar.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Pra onde o destino acolher melhor

Ah! Quem me dera
Ser um pássaro cantor,
E ter a oportunidade de
Caprichar na vida.
Em cada árvore um novo amor,
Com as mesmas despedidas.
E então cantar; todos vão ver,
Que elas vão se arrepiar,
Em ver o 'cara' novo cantar sem parar,
Em ver o 'cara' novo cantar sem parar.

Ah! Quem me dera
Viver do que a terra dá.
E quando der a hora
Bater asas e voar
Pra onde o destino acolher melhor.
E então cantar; todos vão ver,
Que elas vão se arrepiar,
Em ver o 'cara' novo cantar sem parar,
Em ver o 'cara' novo cantar sem parar.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Na paz

Assassinaram minha fúria.
E eu, que a guardava em secreto,
Nas minhas partes mais internas
Presa, entalada num grito,
Fugiu e morreu.

Nestes dias frios a paz é companheira,
E as árvores contrastam o gelo do céu.
E eu vou,
No sossego de quem anda só,
Contando os passos 
E os espaços que as nuvens deixam
Na expansão densa e profunda,
Olhando as curvas que a estrada dá,
Refletindo na morte d' minha fúria.


(imagem: "o grito", Edvard Munch)

sábado, 23 de outubro de 2010

"Por sorte ou por azar" (ânsia de viver)

No profundo céu sem estrelas,
Na pureza dum firmamento estrelado.
Nessa procura ao infinito
Que Amuppiah voou apressado,
Para encontrar seu coração
Em algum lugar na expansão,
Perdido no acaso.

Foi ele dado à uma dama,
Que o usou com desdém,
E não o guardou com cuidado.
"Um coração apaixonado
Não se encontra fácil, como grama",
Ela ouvia com frequência.
Mas tanto se importou 
Que tão breve o soltou.

E foi nessa ânsia de viver
Ou de não morrer
Que Amuppiah aprontou as asas
E voou o mais alto para encontrar
Um coração que batia aflito.
Mas se perdeu no céu de luar,
Entre as estrelas que julgava ser
"Corações perdidos,
Por sorte ou por azar."

domingo, 17 de outubro de 2010

Observação

Essa noite o vento assobiou.

E a moça na calçada se assanhou,
Pensando que alguém assobiava pra ela.

O motorista de táxi acordou,
Achando que alguém queria correr.

O cachorro até olhou em volta,
Procurando o dono que o faria merecer.

No alto da suite duma cidadela,
A dona de casa, com medo da chuva
                                                        fechou a janela.

Mas o vento assobiou foi de orgulho,
Anunciando que cortara os lábios
De alguém que o amava.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Um sorriso aliviado para a leveza da vida

Hoje só um sorriso bastaria,
Não importa como soe
Aos meus olhos, será o suficiente
Para alegrar o meu dia.

Com o cheiro das flores,
Exalando suas cores,
Esperando pelo momento
De alguém, na maior das sutilezas,
Lhe lance o mais terno olhar
E lhe traga alívio.

Não importa a coerência
Desse leve pedido, suprimido
Pelo alívio desse sorriso.
Aos meus olhos é o suficiente
Para alegrar meu canto.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Como se tudo se resumisse a chapéus...

Uma solução_
uma solução para a vida,
uma vida solucionada,
um soluço de criança,
sem flores para cheirar,
um olhar obtuso
para um céu sem estrelas_
Selados num chapéu mágico.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Sentença

O que hoje escrevo,
Escrevo por ser escravo.
Eternamente penalizado
Por não saber outra forma de expressão.

Estou fadado, 
Indefinidamente grato,
A escrever em linhas tortas,
E me prender em alvas folhas.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

"Essas crianças..."

Essas crianças que correm a escadaria,
Roubando fôlego interminável,
Correm à Lua cheia, com olhos abertos
E a boca aberta mostrando espaços,
Correm sorridentes e não lhes passam pela cabeça
Que das 11 já passou há muito.

Essas crianças, que correm na penumbra,
Apresentam um sorriso fácil de roubar,
A'lma  irrequieta, só quer brincar
De correr, sem rumo, do mundo,
Que busca roubar- lhe alguns anos
E aprisioná- las em alta definição,
Com olhares carregados, um sorriso cansado,
Um mundo nas costas e calçados de neon.

sábado, 18 de setembro de 2010

Na corda bamba (brincando de equilibrar)

Na corda bamba,
Uma criança bamboleia
Com muita dificuldade.
Brincando de equilibrista.

Equilibrando a fantasia
De um mundo infantil,
Com a realidade
D'um mundo adulto.

Bamboleando para não cair
Num buraco profundo,
E encontrar- se com o mundo,
Que há muito desistiu d'equilibrar.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Desabafo

Por dias pensei,
E por noites sonhei
Com o dia em que
As letras agora escritas
Escapassem, num sussurro,
Do papel que as cercam.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

No LIMITE

No limite entre razão e explosão,
Entre a sensação e a descrição,
Entre o pop e o singular,
Há uma linha, estendida qual pano de mesa
Que separava a Cisplatina entre medo e coragem.

Essa linha nos divide.
Ousaríamos atravessar? Não sei;
Talvez  pelo medo de sentir o mundo,
Talvez pela coragem de descrever uma explosão
Eu ousaria atravessar
                                         Por uma única vez.
Apenas pelo prazer de ver um mundo 
Suspenso em seus olhos.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Contradição

Quando a gente quer falar,
Simplesmente nos calamos.
Quando a gente quer dançar,
Nós somente nos deitamos.
E, quando a vontade fala mais alto,
A gente não resiste_
Simplesmente se entrega.




Escrito por Amuppiah

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

No meio do mar

Ao passar pelo mar,
Algo me intrigou:
Um pescador no seu barco
A rede remendada lançou.
E pouco se importou
Com o infinito azul.
De rede cheia e
Sorriso amarelo
Para o mar nem olhou.

Enquanto isso, perto dele
Um turista, que nunca vira
O mar, ficou deslumbrado:
"Ah! A imensidão azul!"
Ficou encantado, mas irritou- se
Com o cheiro do peixe fresco,
O remédio que cura a fome 
Do pobre pescador,
Que pouco importa mais com o mar.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O Desafio

Éramos três: eu caminhava incerto, lápis na orelha, coração na mão pronto para ser lançado. Um segurava uma gaita e na cabeça uma canção. O outro, com fone de ouvido e chiclete na boca. Todos na mesma direção, até pararmos na praça, em frente a um cantor. O senhor olhava sem demonstrar nenhuma reação; parecia estar ali há muito tempo. Tocava seu violão velho, tocando uma melodia que parecia não ter fim. Seu cabelo grande e sua barba branca não se movimentava, apesar do vento castigar os pobres mortais; e ele não parecia se importar com nossa presença.
Perguntei: "O senhor não se cansa de tocar?" Sem responder, ele tocava uma melodia sinistra. Novamente perguntei, e ele nada dizia. Pus a mão no seu braço nu; estava tão frio que me queimei.
O da gaita indagou: "O que o senhor tem?"
E ele nos disse, no ritmo da música: "Dor, cansaço e sede, mas não me traga água, não quero que me atormente". Nos perguntamos o que ele fazia ali, e, sem dizermos nada, ele passou a contar, sem parar de tocar:


"Eu era jovem,
E fazia todos dançar.
Este violão que tanto olhas,
Eu não cansava de tocar.
E eu era muito bom;
Às noites eu tocava,
Com mulheres eu dançava,
As que escolhia eu me deitava
E fazia muito amor.
Me tornei muito famoso
E tudo acontecia sem explicar.
Comecei a ficar orgulhoso
E a vaidade me engolia,
E eu me entregava a ela
Toda vez que me vendia."

"Certa vez um homem disse:
"Tu tens o talento de outro mundo."
E pensei desafiar o Diabo,
E o convidei para dançar;
Nos braços da guitarra
Afrontei o moribundo.
Ele aceitou o desafio:
Engalfinhávamos em combate
E ele saiu vitorioso,
Eu perdi minha guitarra,
Minh'alma foi ao demônio.
E como sina, estou fadado a existir,
Mesmo sem viver.
Este violão que tanto olhas,
Há séculos ele não pára.
Eu sigo minha existência,
Tocando sem descanso,
A música da minha insolência.
Como consequência da minha petulância,
Vejo vocês assistindo minha impotência."

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Toda vez que sol e lua vão ao teatro

Tranquila noite, aquela que há estrelas
E que escurece a melodia que aparece
Toda vez que o sol se põe
E eu me vou por aí,
Cantando a música que a gente ouvia,
Contando os carros que passavam,
E a alegria passa sem a gente perceber
Toda vez que a lua se vai
                      E o azul clareia o dia que vem.

Escrito por Amuppiah