A você que me lê

Versos editados
Em espaço enfeitado.
Expor minhas ideias
É um pouco arriscado.
Por isso, a você
Que me lê, um aviso:
CUIDADO!!!

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Quase tanto tempo

Já faz quase muito tempo
Que a gente não se vê.
Como quem acorda assustado,
Sem saber o que fazer.

Eu fiquei ali, parado,
Esboçando o que dizer.
Já faz quase tanto tempo
Que a gente não se vê!

Eu andava tão perdido
E era até de se estranhar,
Que no meio de tanta gente estranha
Eu pudesse te encontrar.

Eu tentei encontrar algo
Que pudesse acabar
Com o silêncio desconcertante
Que pairava no nosso olhar.

Já faz quase muito tempo
Que a gente não se vê.
E eu fiquei abestalhado
Sem saber o que fazer.

Eu achava tão esquisito
Ficar assim, paralisado
Mas fazia mesmo tanto tempo
Que'u me sentia acorrentado.

Eu fiquei ali, parado,
Esboçando o que dizer.
Já faz quase tanto tempo
Que a gente não se vê.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Fantasma

Eu disfarço
Sua cara de louca
E despisto
Sua voz rouca.
Te jogo um pano
Branco, um pano
Por cima da roupa.
Parece um fantasma,
Uma aparição.
Minha visão é pouca,
Sua agonia é muita
Está escuro e
Eles chegaram;
Não dá pra fugir.
Mas agora vê é fantasma
E só eu vou ver
Quando você sumir.

domingo, 1 de setembro de 2013

Parou!

O mundo parou, num certo dia,
Quando pairava no ar uma tal alegria
E as nuvens ainda eram brancas.

Os carros ficaram parados, no sinal,
A roupa ainda pingava no varal
E as pessoas esticavam conversas francas.

De repente, o mundo voltou a girar.

E a alegria era só uma frente fria,
Como uma brisa que volta pro mar
A apatia voltou a reinar.

Os carros retornaram à velha correria,
O varal voltou a ficar vazio
E nas ruas_nem conversa, nem assobio.

Como é triste a nostalgia!

quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Vendo (o movimento parado)

Tudo anda tão parado
Tudo tão enfileirado;
Fila de carro, fila de banco,
Fila pra cair no mesmo buraco.

Tudo anda tão desajeitado,
Como quem é pego fazendo errado,
Que muito se lucra vendendo jornal
Cheio de sangue de gente normal.

O movimento para,
Para pra comemorar,
Que todo mundo tem carro
E uma vaga à ocupar.
O coração congela,
Aponto de entorpecer.
Isolando o amor,
O deixando morrer.


sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Cartão- postal

Ei, vem ver o que
Eu deixei preparado
Antes de dizer adeus,
E não te ter ao lado.

Vem ver que eu
Reservei o melhor das montanhas,
Fora do cinza da nossa cidade.
O que ainda não se perdeu.

Se você quiser eu deixo
A porta entreaberta.
Pra não pensar que tá presa,
E desistir, sem presa e sem luta.

Um cartão- postal só nosso,
Entre as curvas da floresta.
Pra saber se eu posso
Saber o que me resta.


terça-feira, 23 de julho de 2013

O sonho

Antes de acordar
E voltar a realidade
Eu queria lembrar
Dessa loucura, liberdade.

De montanha russa,
Montada às pressas
E a gente ali, de bicicleta
Fazendo as últimas promessas.

Antes disso tudo
Acabar guardado nalguma gaveta
Trancada, na mente agitada
De quem não faz careta,

A gente bem que podia
Anotar como se chega
Nesse lugar dos sonhos,
Onde alegria se rega,

E se come os frutos sem regra.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Devaneio (toda vez que você passa)

Toda vez que você passa
Eu passo a mão pela cabeça
A imaginar se alguém fica passado,
Toda vez que você passa.

Toda vez que você passa,
Lhe passo os olhos, como câmera,
Despretensiosamente, registrando,
O instante que se passa.

Toda vez que você passa
Me passa um trem estranho,
Descompassado, pelo peito.
Penso: "Quem sabe, um passeio."

Toda vez que você passa,
Eu penso em deixar
A amizade no passado
E seguir os passos do amor.

Toda vez que você passa
Eu sinto tudo devagar.
Mas meu devaneio passa
Quando você passa a reparar.


sexta-feira, 5 de julho de 2013

Inverno

Eu me lembro bem o que ouvi
No dia que existia nós dois:
"Que seja eterno, como o inverno,
Como esperar o que vem depois."

E agora eu estou, e você também,
Esperando a próxima cena.
Ignorando que o tempo passa
Até pros amores de vida serena.

Estamos vivendo à sombra
De gigantes, escondendo os passos
Largos que a vida dá, sem poder
Segurar por entre os braços.

Por isso eu corro o risco,
Rasgo a cortina e arrisco
Nunca mais te ver.

Nosso amor é eterno
Mas será que temos tempo,
Algum tempo a perder?


terça-feira, 14 de maio de 2013

Botão de rosa

Quando eu cruzei a porta,
Para nunca mais voltar
Venta, e sopra seu perfume
Perfura o ar obstinado
De quem iria prosseguir,
E completar o inacabado.
Mas não consegui fugir!
Cruzo a porta, aos seus braços,
Porque eu, botão de rosa,
Eu não sei mentir.

E se você quiser
Eu mudo o tom
Pra nossa voz se misturar
E formar o som,
De uma nota só,
De um amor só.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Cão

Sob o brilho dos faróis,
Na estrada, a 100 por hora
Já não tenho a sensação
De perder mais um agora.

Hoje eu estou mais longe
Do que poderia estar.
Como um cão atrás do rabo,
Eu insisto em rodopiar.

É mais um dia dia, virou noite,
O céu, a lua me apavora.
Já não tenho a direção
De pra onde vou agora.

Hoje eu estou mais perto,
Donde não queria chegar.
Tenho um grito preso ao peito
Onde a loucura insiste em chegar.
Como um cão atrás do rabo
Eu persisto em lhe procurar.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Trovador?

Tu esperas que eu
Lhe faças juras declamadas.
Como se eu fosse trovador
E tu, minha jovem declarada.

E entendo seu sofrer,
Pois do amor, ganhaste crueldade.
Acumulas, da dor, as chagas
Diferentes ao virar de cada idade.

Mas não posso afirmar
Que apoio causa tão nobre.
Pois de versos e rimas
Sou eu_ o homem mais pobre.

Só tenho um coração
Que ainda não abriga poesia.
Mas carrega teu amor
Mais forte, ao passar o dia.


quinta-feira, 7 de março de 2013

Em aberto.

O vento que sopra
E atravessa o peito;
Só deixa o frio,
E aumenta o vazio
De quem não ama
E olha pro teto.
Preenche com música
E poesia, o buraco
Cada vez mais aberto.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O Lamento do Marujo

Se tu soubesses
O quanto foi ruim
Içar as velas,
Numa viagem sem fim,
Terias aparecido no cais.
Ó Deus, apiedai de mim!

Agora me atormenta
A última vez
Que vi seu rosto.
A tristeza de fez,
Quando não pude enfrentar
Tamanha palidez.

O temor de não voltar
É meu medo maior.
Pois o vento que aqui sopra,
Diz que a morte vai se impor.
E que desta grande nau
Não sobrará, nem lamento, nem amor.


domingo, 13 de janeiro de 2013

"A luz que ilumina, pode cegar"


"Quem é que sabe, é o que pensa ou o que arrisca?
 Quem é que sabe, saberia ou saberá?"   __Oswaldo Montenegro

É um tempo em que, provavelmente, nenhum de nós verá para contar história. Em uma fuga de uma batalha nuclear mundial, se esconderam juntos, no segundo dia de guerra, numa gruta, um homem, 40 anos, cientista que achava que toda essa confusão era culpa do muito conhecer dos homens. Pensava que "a sede insana da humanidade por respostas os levou a esse Apocalipse". Junto dele se escondia um jovem, 20 e poucos anos, artista em acensão, impetuoso e rebelde, digno da época que nasceu. Passaram tanto tempo, conversando de suas vidas, de como a guerra frustara seus planos, de seus alvos para o futuro, que se tornaram grandes amigos.

Trouxeram consigo mantimentos para passar o período da guerra e, se durassem até o fim dela, sairiam dali, sãos e salvos. Mas um dia seus mantimentos acabaram, e veio uma fome tremenda. Na gruta, os dias passavam sem que se tomasse conhecimento, tão escuro e sombrio o local. Tomando forças para conversar, o jovem disse ao seu amigo cientista:
"_Não podemos morrer de fome aqui. Me lembro de, ao descer pra cá, haver alguns arbustos na parte de cima da gruta. Talvez dê para comermos algo de lá." Seu amigo, porém, estava guardando forças, pois ficara fraco com a fome. Apenas sorriu e acenou, concordando.

O jovem subiu com dificuldade, mas chegou a um ponto alto da gruta, onde havia, sim! arbustos e restos de alimentos. "Provavelmente quem esteve aqui preferiu não descer muito," pensou.  Trouxe o despojo com ânimo renovado, e dividiram, felizes e recuperados. Mas não tardou a fome voltar; ao passar de alguns dias, o artista, com rebeldia restaurada, perguntou ao seu amigo cientista:
"_Vamos ficar aqui, parados, e morrer de fome? Talvez dê para subirmos à superfície. Não vê? Já passamos muito tempo aqui; nem sei em que ano estamos! Temos de voltar." O cientista logo se opôs:
"_Passamos muito tempo nessa gruta, e nos acostumamos à pouca luz. Poderíamos ficar cegos se nos expusermos repentinamente à superfície. Fora o risco de parada cardíaca, com o choque da cegueira repentina. Não compensa morrer dessa forma." O jovem não acreditava no que acabara de ouvir. Seu único amigo nesse tempo todo, com quem dividiu vida e pensamentos, preferia morrer, resignado, numa gruta pela fome! Era uma ideia que ele não aceitava.
_Então você prefere apodrecer aí, sem lutar pela única maneira sensata de viver?
_E qual seria?
_Lutar! É por isso que a humanidade escapou tantas vezes de ser dizimada por predadores, doenças, ditadores. Lutando que eu cheguei até aqui, e estou vivo ainda, de pé, conversando com você!
_Meu amigo, foi por lutar e querer sobreviver a qualquer motivo que nós tivemos que nos refugiar nessa gruta. Não compensa morrer assim.
"_Você é mesmo muito acomodado! Tolice, tudo o que disse! Tolice, eu ainda continuar a falar com você!" Seus olhos marejavam lágrimas, de ódio e tristeza, pois estava dividido entre morrer lutando e sozinho, ou morrer parado, acompanhado de seu único amigo. Decidiu que iria subir, sem olhar para trás.
"_Tem algo a me dizer, antes de nós nos separarmos?" Sua voz era agora doce e suave."Sim. Olhe a frase que você escreveu no primeiro dia que entramos aqui. O jovem olhou a parede que decorara com uma frase escrita com o sangue das suas mãos:
                                      "A luz que ilumina, pode cegar"
Ele olhou para seu amigo, agora magro, desgrenhado, de barba grande, e deu um abraço. Nunca, nesse tempo todo que estiveram juntos, havia dado um abraço no amigo mais velho. Talvez tivesse perdido a sensibilidade, em meio a tantas dificuldades.

Começou a subida, e pensava em tudo que havia passado, na repressão que sofreu ao entrar nas águas da arte, no estouro da guerra, no desespero. Quanto tempo havia passado desde que havia descido àquele inferno frio e escuro? Ele ansiava por respostas; seu peito batia um coração ansioso e desesperado. Pensava no amigo, aquele cientista sereno e brando, e na discussão que tiveram. Talvez desse tempo, após a subida ao mundo, de trazer ajuda a ele, afinal era seu amigo. Muita coisa lhe passava pela cabeça, e seus pensamentos pararam ao ver o brilho da luz, vinda de cima, numa vala que ele reconheceu.

Subiu. Passou do submundo ao seu amado mundo, de artes, prazeres e saber. A primeira coisa que viu foi um clarão, forte e quente. Foi também a última coisa que viu. O clarão deu lugar às trevas. Ficara cego, e daí sentiu medo, muito medo, pois o que disse seu amigo cientista era verdade. Sentiu uma dor forte no peito, a dor misturada de remorso com batidas fortes e descompassadas no coração. Acabou por morrer, sozinho, lembrando da frase que havia escrito.

E não se havia passado três dias desde que tinha entrado na gruta. A guerra continuava, a plenos pulmões, e  agora tinha mais um corpo estendido, não de bala, ou de explosão, mas de luz. De muita luz.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Noite em claro

Eu subo no ponto
Mais alto da cidade,
Pra ver as luzes adormecerem.

Ouvir as mulheres chegarem
Com os tontos, tantos na rua
Assoviando a velha canção.


Eu surto de alegria
Nas luas, na cidade,
Nas cruzes do cemitério.


Ao ver os rapazes
Ressucitar os mortos,
Se erguendo de covas vazias.

Mas eu gosto mesmo,
É de ver você passar
Com seu ar de poesia,
Aos olhos, à sombra da lua,
Esperando raiar o dia.