Perguntei: "O senhor não se cansa de tocar?" Sem responder, ele tocava uma melodia sinistra. Novamente perguntei, e ele nada dizia. Pus a mão no seu braço nu; estava tão frio que me queimei.
O da gaita indagou: "O que o senhor tem?"
E ele nos disse, no ritmo da música: "Dor, cansaço e sede, mas não me traga água, não quero que me atormente". Nos perguntamos o que ele fazia ali, e, sem dizermos nada, ele passou a contar, sem parar de tocar:
"Eu era jovem,
E fazia todos dançar.
Este violão que tanto olhas,
Eu não cansava de tocar.
E eu era muito bom;
Às noites eu tocava,
Com mulheres eu dançava,
As que escolhia eu me deitava
E fazia muito amor.
Me tornei muito famoso
E tudo acontecia sem explicar.
Comecei a ficar orgulhoso
E a vaidade me engolia,
E eu me entregava a ela
Toda vez que me vendia."
"Certa vez um homem disse:
"Tu tens o talento de outro mundo."
E pensei desafiar o Diabo,
E o convidei para dançar;
Nos braços da guitarra
Afrontei o moribundo.
Ele aceitou o desafio:
Engalfinhávamos em combate
E ele saiu vitorioso,
Eu perdi minha guitarra,
Minh'alma foi ao demônio.
E como sina, estou fadado a existir,
Mesmo sem viver.
Este violão que tanto olhas,
Há séculos ele não pára.
Eu sigo minha existência,
Tocando sem descanso,
A música da minha insolência.
Como consequência da minha petulância,
Vejo vocês assistindo minha impotência."
Parabéns pela pessoa que você é! Bom texto. Bom momento, que poderia ser realidade. Um abraço!
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